Os portugueses têm dois problemas. Primeiro, não chegam a acordo quanto a um conjunto básico de princípios que deve nortear a política económica. Segundo, não têm paciência.
Camilo Lourenço
Portugal é um país fraturado. Há 41 anos. É verdade que há muitos analistas que dizem que essa fratura é mais aparente que real. E dão como prova desta afirmação a fantástica convergência de pontos de vista entre os três partidos que se revezam no poder: PSD, PS e CDS-PP. Todos eles defendem a permanência na NATO, todos eles defenderam a adesão à então CEE (agora União Europeia), todos eles defendem a manutenção no euro.
Tudo isso é verdade. Mas será que chega para dizer que Portugal é um país onde a convergência dita as políticas que são seguidas? A resposta é um rotundo “não”. Senão veja: quando escrevia o meu último livro, “Fartos de ser pobres”, fui ouvir vários investidores estrangeiros sobre as causas do nosso subdesenvolvimento. Ou melhor, a razão pela qual continuamos a grande distância dos países mais desenvolvidos da Europa. Pensei que ia encontrar grandes teorias à volta dos nossos problemas. Nomeadamente quanto à nossa proverbial falta de visão.
Nada disso. Numa dessas conversas, com um empresário holandês (por sinal com investimentos em Portugal), atirou: “O vosso problema é muito simples: não se entendem nas questões básicas… e não têm paciência”.
Como assim?, perguntei. A resposta foi demolidora: “Diga-me seis áreas, na área económica, onde haja coincidência de pontos de vista entre os partidos que governam o país!”. Ainda esbocei uma resposta: união monetária… Para ser interrompido imediatamente: “Não. Isso não é política económica. Eu ajudo: na fiscalidade das empresas, há acordo de regime?”. Calei-me ao lembrar-me que o PS, ainda no tempo de Seguro, desfez o acordo nesta matéria. E continuou: “Nas privatizações, há consenso?”. Respondi sem hesitar: “Há. Os Governos PS também privatizaram”. Nova contestação: “Esqueceu-se da TAP?”. E a conversa foi por ali fora, cobrindo outras áreas, como legislação laboral e burocracia.
No final da conversa o meu interlocutor atirou: “Sabe? Vocês têm dois problemas. O primeiro é que não se põem de acordo quanto a um conjunto básico de princípios que deve nortear a política económica”. E o segundo?, interrompi. “Não têm paciência. O desenvolvimento requer uma década, ou mais, de políticas económicas consistentes. Vocês fazem uma coisa agora e daqui a dois anos mudam de ideias. Quem chega ao Governo, rapidamente desfaz o que de bom o anterior fez. Assim não vão lá!”.
Touché!
07-01-2016
Camilo Lourenço é licenciado em Direito Económico pela Universidade de Lisboa. Passou ainda pela Universidade de Columbia, em Nova Iorque, e a University of Michigan, onde fez uma especialização em jornalismo financeiro. Passou também pela Universidade Católica Portuguesa. Comentador de assuntos económicos e financeiros em vários canais de televisão generalista, é também docente universitário. Em 2010, por solicitação de várias entidades (portuguesas e multinacionais), começou a fazer palestras de formação, dirigidas aos quadros médios e superiores, em áreas como Liderança, Marketing e Gestão. Em 2007 estreou-se na escrita. “Fartos de Ser Pobres” é o seu livro mais recente, onde volta "a pôr o dedo na ferida", analisando os resultados eleitorais, os vários cenários políticos e os novos desafios para a economia.