O gestor deixou de ser apenas alguém que percebe do setor, mas alguém que usa novos e sofisticados métodos de tratamento de informação para aumentar a produtividade da sua empresa.
Camilo Lourenço
A Walmart descobriu que há uma relação entre o tempo e as compras dos consumidores que acodem às suas lojas. Frutos vermelhos, por exemplo, são a escolha preferida quando a temperatura se situa em torno dos 27 graus e quando não faz muito vento. E os consumidores compram mais bifes quando o tempo está quente e… há vento. Quando chove, o consumo de carne cai por ali abaixo.
Como é que a Walmart sabe isto? Passou anos a estudar os padrões de consumo dos frequentadores das suas lojas, comparando-os com a informação sobre o estado do tempo. Para isso teve de fazer uma grande aposta no tratamento de informação: instalar centros (digitais) de recolha de informação e pessoas para a tratar. Um custo elevadíssimo: a cadeia de distribuição está presente em todo o território dos EUA, e o tratamento de informação precisa de ser adaptado a cada região em análise.
Qual a vantagem de gastar tanto dinheiro em tecnologias de informação? Ok, as cadeias de distribuição não são propriamente entidades infoexcluídas. Sabem o que cada cliente compra e as respetivas quantidades; sabem onde vivem; sabem quanto gasta por mês… E até conhecem pormenores da sua vida financeira, graças à disseminação de cartões de crédito de marca própria. Mas quando falamos do último projeto da Walmart, estamos a falar de outro nível. De um mundo novo: alguém se lembraria de relacionar hábitos de consumo com o estado do tempo (para além da ideia de que no inverno se consomem menos gelados do que no verão)?
Mas voltemos à questão inicial: o que leva uma cadeia de distribuição obcecada em baixar os seus custos a gastar tanto dinheiro no tratamento de informação? Simples: adaptar a oferta de produtos às precisas necessidades dos clientes. De que adianta ter grandes quantidades de carne de vaca à venda em dias de chuva? E o que adianta encher os lineares com frutos vermelhos se está frio… ou se há alertas de furacão?
Tudo isto representa um custo, elevadíssimo, para quem gere a Walmart. E para outras empresas, ainda que de áreas diferentes. Um produtor de ovelhas da Nova Zelândia começou a usar um drone para percorrer toda a sua propriedade. Objetivo: perceber quando falta água para os animais, o ritmo de crescimento do pasto (que motiva mudar o gado para outras áreas), minimizar a perda de recém-nascidos pelas mães… Pormenor interessante: a opção pelo drone aconteceu depois de o produtor ter visto um documentário sobre a utilização de veículos aéreos não tripulados pelas tropas americanas na guerra do Afeganistão.
Poucos meses depois de introduzir o drone, o produtor em causa já realizava 40 operações diferentes na sua quinta sem precisar de se deslocar fisicamente ao terreno. Resultado: a rentabilidade aumentou em 200 dólares por hectare (a quinta tem 466 hectares…).
A gestão está em processo de mudança acelerada. O gestor deixou de ser apenas alguém que percebe do setor, mas alguém que usa novos e sofisticados métodos de tratamento de informação para aumentar a produtividade da sua empresa. Você, que nos lê, já percebeu isso? E está à altura do desafio?
07-01-2016
Camilo Lourenço é licenciado em Direito Económico pela Universidade de Lisboa. Passou ainda pela Universidade de Columbia, em Nova Iorque, e a University of Michigan, onde fez uma especialização em jornalismo financeiro. Passou também pela Universidade Católica Portuguesa. Comentador de assuntos económicos e financeiros em vários canais de televisão generalista, é também docente universitário. Em 2010, por solicitação de várias entidades (portuguesas e multinacionais), começou a fazer palestras de formação, dirigidas aos quadros médios e superiores, em áreas como Liderança, Marketing e Gestão. Em 2007 estreou-se na escrita. No seu livro mais recente, “Fartos de Ser Pobres”, volta "a pôr o dedo na ferida", analisando os resultados eleitorais, os vários cenários políticos e os novos desafios para a economia.