Sem Empresas Colaborativas Não Há Crescimento – Carlos Oliveira

Sem Empresas Colaborativas Não Há Crescimento – Carlos Oliveira
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Há alguns anos atrás, testemunhei uma situação elucidativa do valor para as empresas da abertura à colaboração com outras empresas.

Empresas A e B

Um cliente internacional reuniu com a Empresa A, portuguesa, que claramente só era competente para fazer metade do trabalho requerido, mas que se queria posicionar como empresa capaz de assumir toda a responsabilidade do projeto e depois subcontratar numa posição dominante a uma outra empresa. O cliente perguntou ao gestor da empresa A, se consideraria uma parceria com a empresa B para melhor responder à sua necessidade. O gestor da empresa A respondeu que “Nem queira saber, deixe-me contar-lhe alguns do podres dessa empresa e dessa gente”, e prosseguiu na destruição da credibilidade da empresa B e do seu gestor.

Na reunião seguinte, o cliente reuniu com a empresa B, que teve exatamente o mesmo comportamento quando questionada sobre uma eventual parceria com a empresa A.

Empresas Y e Z

No dia seguinte, o cliente teve uma reunião com os gestores das empresas Y e Z de um outro país e colocou exatamente a mesma questão sobre uma eventual parceria com a outra empresa. Embora tivessem alguma preocupação sobre uma eventual parceria, tanto o gestor da empresa Y como o da empresa Z, responderam que estavam preparados para equacionar uma parceira, dado o respeito que tinham pela outra empresa.

Mesmo sem saber muito sobre a teoria de jogos, torna-se evidente para todos, que as empresas A e B anularam-se uma à outra, enquanto que as empresas Y e Z se alavancaram para ganharem um projeto que nenhuma delas era capaz de conseguir por si só.

A Economia da Velocidade e a Prosperidade

Mary Wakefield, num artigo recente, referiu que “a confiança e a cooperação para além dos limites da família, são elementos fundamentais para se ter sucesso na sociedade global de hoje”, salientando que “as sociedades mais pobres são as que têm círculos de confiança muito restritos”. Esta postura é similar à visão do Professor Burton Lee, da Universidade de Stanford, que refere que um dos motivos para Silicon Valley estar à frente de outras economias, em termos de inovação económica e de prosperidade, é porque conseguiu construir um código de comportamento e de relacionamentos baseado na confiança alargada, o que lhe permite acelerar os processos empresariais e económicos e chegar a soluções que outras economias, com agentes económicos mais fechados, não conseguem atingir.

As Empresas do Bloco Económico Lusófono devem ser Y e Z

A maior parte das empresas portuguesas tem uma pequena dimensão para abordar o mercado global. Estas devem unir-se e trabalharem em colaboração, para chegarem mais longe. As empresas dos países africanos de língua oficial portuguesa têm uma boa entrada nos mercados africanos, mas, no geral, ainda não têm a profundidade de oferta que têm as empresas portuguesas e as brasileiras, que sozinhas conseguem uma menor aceitação neste mercado.

O crescimento das empresas de língua oficial portuguesa – em qualquer país do Bloco Lusófono - num mundo económico dominando por outras línguas e culturas, não passa por rivalidades estéreis, mas pela construção de relacionamentos de parceria e pelo fortalecimento de uma cultura de complementaridade e de confiança.

Olhando para a nossa realidade, tem havido uma grande evolução, mas há ainda um longo caminho a percorrer para chegarmos, em conjunto, a uma maior prosperidade na economia global.

 


CMO-PLCarlos Miguel Valleré Oliveira é CEO da LBC, empresa internacional de consultoria de gestão presente em países como a África do Sul, Angola, Brasil, Cabo Verde, EUA, Espanha, Moçambique e Portugal. O antigo presidente da CCILSA – Câmara de Comércio e Indústria Luso Sul-Africana assina a rubrica "Ponto de Vista" no Portal da Liderança sobre os temas da liderança-gestão, economia-sociedade e inovação-empreendedorismo.