Seis ordens de razão podem explicar porque há empresas que são inovadoras e outras que não são. E porque mesmo as companhias inovadoras deixam de o ser em certo momento.
Carlos Oliveira
Entenda-se aqui inovação num contexto empresarial. Isto é, o processo de tornar uma ideia criação e entrega de novo valor (serviço ou produto) para o consumidor ou beneficiário (quem paga) no mercado, trazendo lucros para a organização.
1.ª Muitas empresas procuram modelos que são a antítese da inovação. Uma ideia vencedora é algo que tem de ser testado, corrigido, aperfeiçoado. A maior parte das ideias que parece interessante não passa o teste da experimentação. No entanto, muitas organizações procuram um modelo de inovação empresarial que faça exatamente o contrário – querem algo que lhes garanta que a melhor ideia é pensada, construída e implementada à primeira tentativa e de uma só vez, sem erros e sem experimentação, dentro da estabilidade natural da companhia. Um modelo que não dá espaço ao pensamento divergente e à possibilidade de se colocar em causa a forma como as coisas são feitas.
Por analogia, na área científica, o progresso faz-se testando todas as hipóteses e eliminando variáveis. No desporto, um atleta de alta competição desenvolve-se testando, experimentando, treinando, aperfeiçoando. Da mesma forma, um sistema de inovação empresarial é um processo eficiente de aperfeiçoamento de ideias que exige aceitação do erro e da experimentação. Contra intuitivamente pode-se afirmar que um bom sistema de inovação é aquele que acelera o processo de falhar e de evoluir para uma solução melhor.
2.ª Poucas empresas têm um framework/metodologia formal de promoção e gestão da inovação – um processo disciplinado e formalizado de geração, promoção, teste e aperfeiçoamento e introdução no mercado de novas ideias alinhadas com a estratégia, dentro de um modelo consensualizado.
3.ª Muitas empresas não definem e cultivam a necessária cultura de inovação, alinhada com o seu setor de negócio e as suas competências e posicionamento de mercado. Isto é, não definem e promovem os valores e as formas de atuar automáticas que não resultam de normas e regras e que promovem um espírito inovador. Não alinham os incentivos com a cultura.
4.ª Muitos modelos adotados pelas empresas são desadequados ou copiados de realidades muito diferentes. Os erros mais comuns nesta matéria são: ausência de enquadramento do modelo de inovação com a estratégia da companhia, ausência de campeões e líderes de inovação, atuação em silos organizacionais.
5.ª Muitas empresas assumem que a inovação resulta apenas de fonte interna. No entanto, a maior parte das companhias que consideramos inovadoras não criaram essa inovação internamente mas a partir de processos de inovação aberta (open innovation), procurando inovação em fornecedores, clientes, mercado, parceiros, concorrentes, universidades e centros científicos; ou mesmo comprando essa inovação a entidades especializadas, através de aquisições de start-ups ou outras empresas.
6.ª Desequilíbrio entre criativiade e disciplina. A inovação tem duas pernas: a criatividade e a disciplina. A perna da criatividade resulta de processos bottom-up e de uma cultura de criatividade. A perna da disciplina resulta de processos top-down e bem definidos, compreendidos e aplicados por todos na empresa. É preciso exercitar e aperfeiçoar estas duas pernas para correr competitivamente e chegar antes da concorrência.
Carlos Miguel Valleré Oliveira é CEO da LBC, empresa internacional de consultoria de gestão presente em países como África do Sul, Angola, Brasil, Cabo Verde, EUA, Espanha, Moçambique e Portugal. O antigo presidente da CCILSA – Câmara de Comércio e Indústria Luso Sul-Africana assina a rubrica "Ponto de Vista" no Portal da Liderança sobre os temas da liderança-gestão, economia-sociedade e inovação-empreendedorismo.